No decorrer dos dias e da rotina do espaço de tempo em que morei sozinha em uma cidade gigante, eu, como toda estudante ainda sem carro vivendo na capital, tinha que me locomover até a faculdade em que eu estudava munida de minhas próprias pernas e um bocado de força de vontade. Por sorte e estratégia eu morava bem pertinho e não precisava pegar ônibus, apenas tinha que atravessar uma avenida gigante, que apesar de sempre lotada de veículos e movimento tinha uma atmosfera que cheirava a solidão. E para atravessar essa avenida tão importante para o trânsito e tão desagradável para as almas que ali tinham que passar diariamente, havia um semáforo, um maldito de um semáforo que por dias a fio fez meus neurônios ficarem inquietos. Acontece que o deficit daquele semáforo era que quando o sinal ficava vermelho para os carros pararem, o sinal do pedestre, aquele com um homenzinho andando, que deveria ficar verde para mostrar que o pedestre podia finalmente atravessar, também ficava vermelho. No começo eu fiquei muito perdida, parada inexoravelmente observando aqueles carros parados que se pudessem falar estariam mandando eu atravessar logo a rua, em contraponto com aquele bonequinho vermelho contraditório que me fazia ficar imóvel ao sentir que atravessar a rua naquele momento seria errado. Porém como eu era obrigada a passar por aquela sinaleira diariamente se quisesse chegar em casa, acabei tendo que me acostumar a ignorar o maldito bonequinho vermelho e seguir minha intuição e percepção, estranha sensação boa de sobreviver aos efeitos colaterais da contradição. E conforme passavam os dias, e eu passava por aquela faixa de pedestre, comecei a perceber que aquela contradição do sinal que me agoniava tanto era na verdade apenas uma analogia disfarçada de sinaleira. Afinal nem sempre a vida e as circunstâncias vão te fornecer o caminho certo e o momento exato para alcançar seus objetivos, e podem muitas vezes inclusive te confundir ou te distrair dos teus propósitos, como a sinaleira que ao invés de auxiliar, prejudicava. Mas mesmo que todos os aspectos e variáveis que lhe circundem forem contra você, o grande segredo é ter ousadia e esquecer do verde do vermelho e até do amarelo e sim focar no fluxo dos veículos. Esqueça as nuances e os poréns e foque na ambição, na intuição e na percepção. Ah e atravesse logo a faixa, afinal ficar parado esperando uma resposta que você encontrará só dentro de você mesmo nunca te levará pro outro lado da rua!
30.11.17
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no cartório e pk pros íntimos (por causa das iniciais do sobrenome), 21 anos, virginiana com ascendente em touro e lua em sagitário e salva pela existência do verbo. Não vou falar das coisas que gosto pois odeio objetividade vou falar do que eu sou pois eu sou subjetividade, sou extremo, sou arte, sou desastre. Se você quiser saber sobre mim não me procure aqui pois eu moro nas entrelinhas.
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