Eu
definitivamente nunca fui dos números. Números sempre me assustaram
de uma maneira inexplicável. Fórmulas. Cálculos. Notas. Idade.
Tempo. Eu nunca gostei de quantificar a vida. Eu sempre gostei de
analisar a vida. Acredito que esse seja um dos principais motivos
pelo qual o Jornalismo me escolheu e me encantou. Poucos sabem desse
fato mas eu era uma criança extremamente tímida. Dentro de mim o
mundo pulsava. Mas por fora eu era calada. Bloqueada. Introspectiva.
Isso perdurou por longos anos e me fez sofrer internamente por um bom
tempo. Mas com certeza todo esse tempo sendo quem eu nunca fui por
dentro me transformou em uma observadora nata. Até o dia em que uma
força contrária, que até hoje não entendo de onde surgiu de
dentro de mim, fez com que eu decidisse de uma vez por todas que
tinha cansado de calar minha real essência. E foi justamente ai que
a minha vida aconteceu. Autoconhecimento. Uma palavra simples e
clichê com uma potência gigante. Assim eu passei a me analisar e me
conhecer, genuinamente. E a partir do momento em que você se
conhece, você passa a conhecer também a vida ao seu redor. Sempre
digo que há muitas deixas maravilhosas no mundo para serem
descobertas e sentidas. Da mesma forma que há muitas coisas que
acontecem no mundo para serem apuradas e informadas. E foi desse
jeito que de um dia pro outro eu passei da menina quieta e reprimida
que sofria bullyng no ginásio para a menina comunicativa e com sede
de vida que sempre fui. Ok. Agora você deve estar se perguntando: ta
mas o que isso tem a ver com jornalismo? E eu te respondo. TUDO. Um
jornalista precisa ter sede de vida porque ele lida com a vida. Com a
morte. E com a transformação de tudo que conhecemos e vivenciamos
em sociedade. E isso, com certeza, contribui em um dos aspectos que
mais me encanta na profissão: a ausência de rotina. Um dia você
está entrevistando o prefeito, no outro dia um piloto da Esquadrilha
da Fumaça e no terceiro tirando fotos de uma catástrofe. Você não
apenas escreve, relata ou informa sobre os acontecimentos. Você de
certa forma se torna parte fundamental deles. E pra mim isso é e
sempre será mágico. Quando você pode não apenas analisar a vida
mas também contribuir com a funcionalidade dela. Mas é claro que
nem tudo são flores. Principalmente no Jornalismo com o seu estigma
de faculdade desvalorizada devido a não obrigatoriedade do diploma e
também a dificuldade no mercado de trabalho. Sim isso, infelizmente,
é um fato. Um triste fato que nem eu e nem você podemos mudar do
dia pra noite. Muitas vezes chega a ser engraçado pensar que o
jornalista trabalha em prol de uma sociedade, que em sua maioria, é
a mesma que o desvaloriza profissionalmente. Ironias da vida.
Diariamente pessoas tentam me desmotivar em relação a profissão.
Mas quem disse que eu gosto do que é fácil? Eu gosto do que me
instiga e inspira. Eu gosto do verbo e da fala. Eu gosto de gente. Eu
gosto de fazer a diferença. Sim eu sei, todo mundo precisa de
dinheiro. Mas todo mundo também precisa, ou ao menos deveria, se
sentir vivo trabalhando com o que realmente ama. E eu particularmente
prefiro ser feliz. Acredito que tudo na vida acontece como deve
acontecer. Basta ser bom no que se faz, acreditar em si mesmo e se
esforçar pra dar certo que o mundo inteiro vai se mover ao seu
favor. Não consigo nem por um segundo me imaginar sentada em uma
cadeira de sala de aula olhando para um quadro melancólico cheio de
fórmulas matemáticas para resolver. Eu gosto é de chegar na
faculdade passando e repassando na cabeça as perguntas da atividade
de entrevista que a turma fará no estúdio. Assim como gosto do frio
na barriga dos momentos de improviso, filmagens e gravação. Eu
gosto das aulas na sala de informática e de escutar o barulho dos
dedos rápidos, tocando o teclado, movidos pela criatividade. Eu
gosto de quase não ter provas porque as avaliações geralmente são
em forma de produção de textos ou ação. Eu gosto do fato de
acabar sendo quase como um jornal ambulante que está sempre por
dentro de um pouco de tudo. Eu gosto de falar com os dedos, com a
boca e com o mundo.
17.4.19
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Peka, Tua clareza, confiança e persuasão só mostram o como seu tiro é certeiro.
ResponderExcluirAcho que tudo na vida é aprendizado, e você de e usar de todos os aprendizados a seu favor o tempo inteiro, admiro isso em quem transparece isso de maneira poética. Eu gosto muito dos seus textos e mais ainda da poesia em pessoa que tu és. Eu sempre te defino como uma poesia, por dentro e por fora. Parabéns.